Observatório da diversidade discursiva
Formas de se evitar o preconceito estrutural no discurso
Vivemos em sociedade, compartilhando não somente o espaço por que passamos; também compartilhamos ideias, comportamentos, desejos, praticamente tudo o que nos torna humanos. Compartilhamos, cada um, a nossa história com a história de todos os demais. A nossa história pessoal e a nossa história familiar são diferentes de todas as outras histórias que conhecemos. Cada uma delas tem características próprias que, às vezes, são iguais, às vezes, são diferentes daquelas que compõem e compuseram as nossas histórias. É comum que essa igualdade ou essas diferenças nos assustem, porque podem fazer com que sejamos concorrentes, disputando o espaço, as ideias, os comportamentos, os desejos que temos de compartilhar. Não há como não pensar que o susto é parente do medo, por isso, o que nos assusta nos amedronta e parece ameaçador, fazendo com que nos esforcemos para evitar ou, pior, eliminar.
Enfrentar o medo é talvez uma das reações mais difíceis que temos. A única maneira de enfrentá-lo é conhecer melhor o que nos assusta e o que no amedronta. Precisamos saber se é uma ameaça real ou se é somente o resultado de uma história que teve um curso diferente da nossa. Um animal feroz que nos ataca é uma ameaça de que precisamos nos proteger; também é uma ameça quando pessoas armadas vêm sobre nós para nos atacar. Isso dá medo e precisamos estar protegidos. Para esa proteção precisamos contar com uma estrutura social completa, institucionalizada em várias instâncias que deve atuar prontamente. Mas não é esse tipo de ameaça temos em foco. Reconhecer uma ameaça real e uma ameaça apenas imaginada nem sempre é fácil, porque ela é imprevisível.
Reconhecer para diferenciar uma ameaça real de uma ameaça imaginada exige que sejamos capazes de prever as ações que vão se seguir quando nos encontrarmos amedrontados. Ora, se estivermos cientes de que estamos diante de uma ameaça imaginada, não temos de temer as ações futuras, proque não há ameaças. Mas nossa imaginação nos engana e, como num sonho, sentimos como se tudo fosse real. Para que isso não ocorra, é preciso conhecer as ameaças imaginadas todas, ou pelo menos a maior parte delas, para que não nos deixemos levar com elas. Se não há como conhecermos nossas próprias ameaças imaginadas, porque ainda não as imaginamos, o ideal é conhecer as que outros já criaram e documentaram. Mesmo sem saber, sem ter esse propósito, essas ameaças imaginadas, que chamamos de preconceito, nos alertam para isso. Cada manifestação de preconceito que presenciamos é como se seus autores nos estivessem dizendo: eu me assustei com isso, tive medo disso, mas foi somente por conta de minha imaginação.
Temos de achar esses alertas, porque cada uma dessas ameaças imaginadas se configura como uma forma de preconceito, que gera intolerância e cria dificuldade, até impossibilidade, de convívio social. Sempre alguém será uma vítima, porque o medo que nossa imaginação criou nos fará evitar ou eliminar uma diferença que se formou apenas porque cada uma teve sua própria história.
Com o propósito de trazer a todos os que atuam diretamente com a formação dos indivíduos para o compartilhamento de ideias, comportamentos e desejos no mesmo espaço social, procuramos fazer uma ajuntamento organizado do que consideramos alertas involuntários para as ameaças imaginadas. Embora seja comum tomarmos esses alertas como preconceitos, será preciso utilizá-los como estratégias para que saibamos quais ameaças imaginadas amedrontavam e ainda amedrontam nossa sociedade.
Procuramos separar isso em dois grandes grupos: as que se relacionam com o corpo e as que se relacionam com a situação social dos indivíduos.